14 agosto 2008

Silêncio e Solidão – Dias ou Minutos que antecedem a Morte

Ao acordar no dia de hoje, um domingo fétido e sombrio, pensei: “mais uma manhã improdutiva; mais uma tarde enclausurado num sótão ou subsolo empoeirado”. O tempo passa, as cobranças reaparecem diante de mim e sinto-me cada vez mais fraco ao ponto de imaginar se será hoje “o dia”, pois, estou velho, sujo e só. Ouço zumbidos... Seria, talvez, a morte a se aproximar?

O silêncio ao meu redor é sepulcral, hipnotizante, “ensurdecedor”. A situação perfeita para que se possam ouvir as batidas de um coração cansado, daquele que sequer chegou aos trinta anos.


Levanto-me e ando, tal e qual Lázaro obedecendo às ordens de Jesus Cristo, ao mesmo tempo em que me sento e choro – tal como a vida parece ter me ensinado a agir diante da convivência com a solidão – numa existência inteira sem amor. Dirijo-me à janela e, surpreso, “dou de cara” com um belo e contraditório dia lá fora, o qual eu não aproveitei porque não quis ou por ter sido impedido. Enfim, nada importa agora.


Aqui estou eu, sentado numa velha poltrona a “chorar pitangas”, pensando nas oportunidades perdidas de outrora que, infelizmente, não voltam mais. Como se um filme tomasse conta de minha mente neste exato instante – o que realmente aconteceu.


Dentro deste quarto, as janelas e cortinas permanecem fechadas para que, assim, a luz não possa entrar. Aliás, a tal luz não quis entrar, preferindo me deixar sozinho numa clausura infinita. Sem qualquer noção de espaço e tempo, ando em círculos até me sentir tonto e perder os sentidos.


Minutos depois, recobro a consciência e percebo que nada mais me resta a não ser um cálice de vinho tinto esquecido num canto qualquer desta masmorra imaginária. Comprimidos que, em doses exageradas, poderiam resolver o meu problema também me fazem companhia. E ainda, um livro, companheiro de minhas horas obscuras – tão velho e empoeirado quanto eu e o sótão juntos.


Amigos? Onde estão? Quem dera que alguns dos poucos que eu tive pudessem aparecer ou telefonar neste instante, mas, nem isso. Na verdade, quem em sã consciência teria coragem de sair por aí dizendo que, um dia, foi meu amigo? Todos eles, sem exceção, afastaram-se de mim. O que me deixou ainda mais motivado a permanecer aqui, trancado neste subsolo imundo.


Diante de um espelho, eu me observo em lento estado de putrefação, além de notar, também, algumas lágrimas e gotas de suor misturadas ao sangue que jorra de meus pulsos e insiste em não estancar. Percebo a morte a se aproximar a cada segundo e, sem qualquer reação, entrego-me a ela. Eis a volúpia da libertação...


Solidão? Nunca mais, pois, a qualquer momento, estarei “do outro lado”, livre para sempre. É chegada a hora em que meus olhos se fecham para que eu possa, enfim, dormir o tranqüilo e eterno sono da morte. Adeus...


(Pedro Braz Neto)

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